2011/02/15

Da moção de censura do Bloco de Esquerda e não só

O Bloco de Esquerda, no domingo, dia 6 de Fevereiro, na voz do seu líder Francisco Louçã, dizia, passo a citar (com respectivo link):
Passado pouco tempo, quinta-feira passada, dia 10 de Fevereiro, Francisco Louçã, em pleno debate quinzenal com o Primeiro-Ministro, anuncia a apresentação de uma moção de censura ao Governo. Ficam então os bloquistas (que outro nome para eles?) muito chateados - como já tive o prazer de verificar nos mais diversos sítios - quando são acusados de incoerentes (novamente, que outro nome?).

O Bloco de Esquerda, em toda a sua curta história (curta por agora, entenda-se, "I know not what tomorrow will bring"), quer fazer da Assembleia da República o palco dos seus despiques quasi-pessoais. Fundou-se, ou fundiu-se, fica ao critério de cada um, para combater esse grande flagelo de Portugal que era, imagine-se, o PCP e as políticas de direita. Sim, o caríssimo leitor fez o que lhe competia melhor que ninguém e leu bem o que eu disse: roubar votos ao PCP e combater as políticas de direita PS/PSD (com ou sem CDS-PP). Se o segundo objectivo alguma coisa terá de nobre - raios, todos os partidos e todas as pessoas com um mínimo de sensatez o veem! -, já o primeiro não tem ponta por onde se lhe pegue. Não digo isto com base em qualquer documento, vídeo, áudio ou escrito, digo-o apenas com base na génese dessa imensa plata-em-forma de teia que é o B.E.: dos três pequenos-grandes partidos que formaram originalmente o Bloco, de dois deles faziam parte da sua génese dissidentes do PCP (e, já agora, de outros partidos políticos, como o MRPP, PS, MDP ou Plataforma de Esquerda). Ora, é um exercício simples. Se eu saio de um partido político é porque não gosto dele. Se da saída desse partido político resultar a fundação de outro, é claro que o meu objectivo é deitar abaixo o que me pariu originalmente. Perdoem a lição de história partidária do Bloco de Esquerda, mas era necessária. Mais não seja para massajar o meu ego, de tão bonitos que são os meus conhecimentos de política.

Freud certamente explicará esta obsessão do B.E. com o PCP. O Bloco de Esquerda, novinho que é, estará, politicamente falando (ou não), na fase fálica. Está com aquilo a que alguns psicanalistas chamam de Complexo de Édipo - um ódio pelo pai (o PCP) e um amor cego pela mãe (aqui, na analogia, esta parte não interessa muito, até porque não sei quem poderá ser a mãe - deixo a sugestão repartida pelo Francisco Louçã e Luís Fazenda). Porque é inegável que o PCP, voluntária ou involuntariamente, seja o pai do Bloco de Esquerda. É-o, na medida em que dois terços da plataforma mais importante do B.E. é constituida, sobretudo, por ex-comunistas - Política XXI e UDP (com o PSR aqui à parte). Talvez encontre uma mãe ao Bloco... Uma mãe um bocado bizarra, mas que me parece satisfazer todas as condições de "amor" que o B.E. nutre. O poder político. O Bloco tem amor pelo poder e deseja roubar esse poder à esquerda ao PCP. Inconscientemente, claro. Porque não são assim tão idiotas. O PCP é o avô da política portuguesa e um dos pais da democracia de Abril. E toda a gente respeita os avós. Só os idiotas-100% é que não o fazem.

Bem, isto tudo para chegar ao meu ponto de vista sobre a moção de censura bloquista (a sério, arranjem-me outro nome para os gajos). O PCP, pela voz do seu secretário-geral Jerónimo de Sousa, numa entrevista à Antena 1 (se não estou em erro), admitiu apresentar e/ou viabilizar uma moção de censura que derrubasse este Governo. Logo o Bloco correu e atropelou-se para dizer o que citei em cima. Para logo correr e atropelar-se mais um bocadinho e dizer que vai apresentar ele próprio uma moção de censura, depois de desafiar José Sócrates a apresentar uma moção de confiança à Assembleia da República. O que é que pode ser entendido disto? Numa lógica de conseguir o amor do eleitorado à esquerda, faz um desvio para conseguir chegar à meta antes do papá comunista e vê agitar-se a bandeira axadrezada à sua frente. Pensando, creio, quase de seguida, "o que raio é que fomos nós fazer?". Assim, pela pontada de bom-senso que lhe foi atravessada mesmo antes de cruzar a meta, inviabilizou a sua própria moção de censura, contradizendo-se - outra vez -, criticando o PSD ao mesmo tempo que critica o Governo. No entanto, nessa altura, ainda se tremia na Rua da Palma. Porque, repare-se, todas as sondagens dão vantagem ao PSD, que tem maioria absoluta se coligado com o CDS. Nunca a "mãe" do B.E. o perdoaria depois do apoio a Manuel Alegre e de uma hipotética eleição maioritária PSD/CDS. Ou voltavam com a moção de censura atrás (e eram acusados de propaganda populista e demagógica) ou esperavam que algum dos partidos votasse contra ao lado do PS ou se abstivesse (poupando-se a uma humilhação ainda maior) ou arriscavam-se a tornar-se num novo PRD de 1985 em pleno ano de 2011. A salvação acabou por lhes surgir hoje, à direita, pela voz de Paulo Portas, que afirmou que o CDS se vai abster na moção de Louçã/Fazenda. Suspiraram de alívio os dirigentes do Bloco de Esquerda. E só assim cruzaram a meta. Apenas para perceberem que o PSD já lá estava, relaxado. E o CDS, a gozar. E o PS, suado. E o PEV, a contemplar o mundo. E o PCP, o primeiro a chegar, de braço dado. Pai e mãe, felizes.

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