2011/01/09

De presidenciais

Sim, não é 11 de Janeiro, mas teve que ser. Bom ano a todos!

Nestas presidenciais o maior amigo da vitória de Cavaco Silva não é o PSD nem o CDS nem tampouco o MEP. O melhor amigo que Cavaco Silva pode encontrar para vencer estas eleições é o pessoal que fica em casa de papo para o ar, "ai porque está frio, ai porque tenho preguiça". O maior companheiro, de braços dados, até, de Cavaco Silva, candidato, é quem se encontra descontente e não agarra numa das poucas armas que o povo tem - o voto. E eu digo que não quero Cavaco Silva por mais cinco anos em Belém. E é por isso que vou votar. E é por isso que não vou votar nulo, nem votar branco. De resto, é importante forçar uma segunda volta com um candidato de esquerda ou, idilicamente, uma segunda volta entre dois candidatos de esquerda. No entanto, é importante saber a quem dar a oportunidade de uma segunda volta. Porque qualquer que seja o candidato que for a uma segunda volta com Cavaco Silva (e o resto do texto quando falar de segunda volta será sempre entre Cavaco silva e outro qualquer) será o candidato que mobilizará os votos da esquerda que, mais ou menos unida, provavelmente servirá de derrota ao candidato Cavaco Silva. Assim, analise-se os candidatos, com base nos debates e nas entrevistas já realizadas e perceba-se ao que se vem.


  • Cavaco Silva é o que já se sabe. Encarna a hipocrisia, o conservadorismo mais desgastado e a labreguice mais idiota que se pode encontrar num português. Para qualquer pessoa que queira um presidente que faça bom uso de todos os poderes presidenciais que a Constituição infere, este é o candidato a não escolher. Este é o candidato da direita, dos liberais económicos e conservadores sociais. "Se és neoliberal, vota Silva!"
  • Defensor Moura é o senhor da terrinha. É o homem que se convenceu que não tinha nada a perder em haver mais uma candidatura à esquerda e, por isso, submete o seu nome também. Defensor não só de nome, mas também da regionalização e dos movimentos de defesa animal, tem as suas bandeiras em dois pontos centrais, onde um presidente, por mais que queira, não pode fazer grande coisa: anti-corrupção e regionalização.
  • Fernando Nobre é o candidato antecipado. Apresentou a sua candidatura há quase um ano e aquilo que ao princípio parecia ter algum interesse mostrou-se extremamente irritante. Fernando Nobre dá a impressão que se candidata sem saber muito bem para onde se candidatar. Diz-se um cidadão livre da política mas é precisamente a um cargo político que se candidata (sem contar com os apoios que foi dando nos últimos anos). De uma pessoa íntegra que eu tinha na minha imagem, passou a um demagogo populista e o candidato que, de todos, se aproxima mais de Cavaco Silva. As suas propostas são irrisórias por não representarem aquilo que um presidente pode fazer e são, no mínimo, diminuidoras do poder político, um dos pilares da nossa democracia.
  • Francisco Lopes é o candidato comunista. Talvez seja por isso, também, que é o candidato que se apresenta mais bem preparado em debates e em intervenções. No meio de panóplias irrisórias que os outros apresentam, Lopes é o candidato que não comete erros e que tem o direito de apontar o dedo porque os outros não lhe podem fazer o mesmo com razão. No entanto, é um candidato misterioso, não pelo desconhecimento popular (que é um mito para qualquer cidadão bem informado da política do nosso país), mas porque é demasiado impessoal e automatizado nas intervenções que faz.
  • José Manuel Coelho é alguém. Acredito que sim. Só que ainda não percebi muito bem quem. Sei que é contra tudo e contra todos os outros candidatos. Sei que pertence a um partido que defende o presidencialismo. Sei que não gosta muito do Alberto João Jardim. Sei que tem um nome que acaba num mamífero. Mas não sei mais. E precisava de saber.
  • Manuel Alegre é um poeta chateado. Está chateado com Cavaco Silva porque é o seu maior opositor. Está chateado com os outros candidatos de esquerda (embora não o queira admitir) porque queria ter todo o seu apoio, do PCP ao PS, passando pelo BE e PEV. Está chateado porque os partidos que o apoiam são aqueles que ainda vão fazer com que perca as eleições. Está chateado porque preferia ter de concorrer contra um Soares que contra um Nobre pelo segundo lugar. E está chateado porque está a aproveitar mal as oportunidades que tem para deitar abaixo Cavaco Silva. No fundo, é um candidato que já deu para perceber que não quer o FMI cá em Portugal. E que se quer mostrar como a antítese de Cavaco Silva. Mas não deu para perceber muito mais que isso. Se mais que isso.
São eleições para todas as cores. Desde o vermelho e verde, passando pelo rosa, azul, laranja e até aos que não querem ter cor. Tenho que dizer que a minha cor é a vermelha. Mas não é por apoiar o PCP que apoio também Francisco Lopes. Apoio Francisco Lopes porque é quem mais me garante fazer cumprir a Constituição. Lopes é o candidato que é descomprometido - é descomprometido na sua relação com o governo (provavelmente não será proximamente que o PCP será governo), é descomprometido com a demagogia e a falsidade (ao contrário de outros candidatos) e é descomprometido com o desconhecimento da Constituição (de todos é o que melhor parece saber recitá-la). E é de esquerda. Coelho e Nobre são de alguma coisa. Alegre e Moura são de esquerda quando apetece. Mas Lopes é mesmo de esquerda. É por isso que voto Francisco Lopes. Sei que muito provavelmente não será ele a ir a uma segunda volta com Cavaco Silva. Mas é o candidato que está mais bem preparado para o fazer. E tivessemos nós um Francisco Lopes na presidência...

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