2010/11/01

Dos princípios ateístas que eu sigo

Sou ateu, como muito boa gente já o saberá. Juntamente com as minhas convicções políticas e de justiça, é um dos grandes pilares ideológicos onde apoio o meu pensamento crítico em relação ao mundo que me rodeia. Mas, como outros poderão dizer que vivem para servir Deus, Alá, Jeová ou Vishnu, no meu caso eu vivo para me servir a mim próprio. Creio que será isso o grande ponto de partida de um ateu: a convicção nele próprio, na humanidade e na sociedade onde vive. Fazer o correcto só porque é correcto, e não porque um livro a caír de podre lho diz. Recear pelos castigos em vida e não temer pela morte que se aproxima, muito menos pela eternidade - essa ganha-se com feitos e com a memória das pessoas que de nós gostam. Ser-se ateu é, simplesmente não acreditar na existência de um ou mais deuses. Nem é não acreditar em Deus - isso traduz-se, no fundo, em não acreditar no que nos "é dito pela palavra divina", não é negar a existência de deuses. Ser-se ateu é isso - negar que possam existir seres divinos, todo-poderosos e omni-tudo-e-mais-alguma-coisa. Ser ateu é viver descontraídamente, sem ter receio de pecar ou de ir contra qualquer coisa que esteja escrita. Ser-se ateu é ter uma consciência, porque, ao passo que os religiosos evitam fazer algo de mau com medo das penúrias da eternidade, um ateu não pratica actos vis porque a sua consciência lhe diz para não o fazer. Um ateu é alguém que vive a vida e aceita as consequências dos seus actos. Um ateu não reza porque não é um cobarde que precisa de delegar responsabilidades num ser que, muito provavelmente, não existe. Um ateu aceita a ciência com todas as suas falhas porque cada falha é um passo em frente no conhecimento humano que algumas religiões querem abafar. Um ateu abre as portas à criatividade e à tolerância e não se preocupa com os preconceitos e esteriótipos com que a religião mina as mentalidades das pessoas. Um ateu não precisa de templos ou de igrejas ou de mesquitas ou de qualquer outro tipo de edifício que sirva os interesses que alguns - o ateu tem a companhia dos amigos, tem os clubes ou associações. Um ateu não impõe restrições a um determinado estilo ou forma de viver, desde que o seja feito com responsabilidade. Um ateu é livre e tem como objectivo máximo a libertação do outro. Um ateu não deve influênciar, mas, racionalmente, intervir num mundo que é um campo minado pela religião. Um ateu deve objectar sempre que algo for contra a sua consciência e ser capaz de dizer 'eu não faço isto!' sempre que achar que tal é injusto. Um ateu deve ser uma pessoa de bem e nunca praticar o mal porque, mais não seja, pode não acreditar na existência de um ou mais deuses, mas acredita, certamente, na existência de prisões onde pode ir parar. Um ateu deve procurar provas racionais e científicas que apoiem o seu ponto de vista, devendo, de igual modo, recorrer a provas objectivas para argumentar contra algo. Um ateu não aceita modelação mental, seja ela qual for, e tem um pensamento crítico das sociedades, sabendo, mesmo dentro daquelas que mais gosta, distinguir o que é bom e o que é mau para a Humanidade. Um ateu é incapaz de não ter uma palavra a dizer acerca do que acha mal dentro das sociedades e populações religiosas. Um ateu não fica calado nem perante papas ou ayatollahs ou outro tipo de representantes religiosos. Um ateu não tem medo de olhares reprovadores, porque sabe que a razão está do seu lado. Um ateu combate vigorosamente dogmas e mentiras instituídos. Um ateu tem de provar que as tradições é que se têm que adaptar aos tempos e não estagnar-se por causa delas. Um ateu não pode ser supersticioso pelas mesmas razões pelas quais não é religioso. Um ateu goza com o que deve ser gozado. Um ateu respeita a pluralidade, seja ela cultural, étnica, ideológica ou até mesmo religiosa. Um ateu não tem como objectivo erradicar a religião - isso seria apenas um bónus. Um ateu tem como objectivo a educação das massas para uma verdade, não religiosa, universal e certa, mas científica, infinita e em construção. Um ateu respeita o outro e espera ser respeitado. Um ateu respeita o outro mesmo que não seja respeitado. Um ateu deixa de respeitar o outro quando o outro parte para a violência. Um ateu acredita que as pessoas possam ser boas e respeita-as, independentemente do seu género, partido político, etnia, orientação sexual ou credo religioso. Um ateu não ostenta nenhum símbolo nem exige que outros o façam porque não tem a necessidade de afirmação que as religiões e os religiosos têm.

No fundo, um ateu é um ser humano. E o ser humano gosta de ser feliz. Então, parafraseando o slogan inglês, "provavelmente deus não existe, portanto, pára de te preocupar e goza a vida".

2 comentários:

tossetudocaparafora disse...

Excelente. Nunca tinha visto uma argumentação tão boa quanto ao ateísmo. Parabéns, mesmo.

Tiago Emídio Martins disse...

Muito obrigado :) Cumprimentos!