"Os ricos que paguem a crise", ouve-se. Depois de aprovado, na generalidade, um Orçamento de Estado como o que será aprovado amanhã, restam poucas dúvidas: vão ser os pobres a pagar a crise. Os bancos privados, coitadinhos, os que, devido à má gestão e à especulação nos enterraram na crise em que estamos, pagam quantias irrisórias de imposto. E, ainda por cima, desgraçados, vão compensar, provavelmente, esses gastos em impostos, nas mais diversas taxas cobradas ao cliente. Os ricos, os accionistas, os administradores e outras gentes que em nada contribuem para a sociedade com o seu trabalho 'honesto', esses não lhes custa perder o abono de família ou levar cortes de 10% noutros subsídios ou ordenados. É ao trabalhador que todos os dias sua para ganhar o seu dinheiro no final do mês a quem vão ao bolso. E quando digo "vão", não digo somente o Teixeira dos Santos, o Sócrates ou a Helena André (e, já agora, a restante corja) - falo dos banqueiros que aumentam as taxas, falo das concessionárias que aumentam as portagens, falo das empresas de serviços que aumentam os seus custos, falo do pão que aumenta e da restante comida. O IVA aumenta em 2% e não é ao que anda a encher o rabo de dinheiro a que custa pagar esse excesso - é aos trabalhadores, aos reformados, aos desempregados e aos estudantes. Eu bem queria ver um banqueiro ou um especulador a ganhar não mais que o ordenado mínimo. Essa cambada de putos mimados de colégio que resolveu ganhar o seu dinheiro facilmente e mama todos os dias, directa ou indirectamente na teta do Estado - todos nós.
O Estado não são esses yuppies neoliberais que decidiram tomar conta do dinheiro. O Estado não são os ricos que têm poder de compra e, por isso, fazem o que lhes apetece. O Estado não é quem paga com uma nota de cem e recebe mil de troco. O Estado são todos os que trabalham para fazer um país melhor. O Estado são todos os que, não trabalhando, já o fizeram ou farão. O Estado são todos os homens, mulheres e crianças que, não sendo ricos, têm direito a viver condignamente. O dia em que esses homens, mulheres e crianças, não viverem com dignidade, é o dia em que o Estado morre. O dia em que os homens e mulheres que trabalham, os reformados, os estudantes e as crianças, tiverem dificuldades, não só a viver, como a sobreviver, o Estado morre. O dia em que passarmos a viver numa plutocracia formalmente instalada, com uns laivos cleptómanos pelo meio, é o dia em que o Estado morre. E, homens, mulheres, crianças, se nada fizerdes, se nada fizermos, esse dia, infelizmente, aproxima-se.
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