... mas todo o Vaticano é um gigantesco manual nojento de maus costumes, onde o insulto cobarde, fácil e simplesmente estúpido domina a mentalidade pequena e mesquinha daquelas pessoas que por lá habitam e os seus lacaios espalhados pelo mundo. Morreu José Saramago, como toda a gente saberá. Enoja-me profundamente as declarações feitas pelo Vaticano, cobardes porque as dirigiram a alguém que não se pode já defender. Ah, e o medo que essa escória tinha que ele se defendesse: as verdades que lhes atirava à cara, a defesa do seu ateísmo com pressupostos racionais, a negação de qualquer metafísica por a considerar portadora de maldades. E a razão que ele tinha! Diz a canalhice clerical, através do seu pasquim L'Osservatore Romano, que José Saramago era "um ideólogo antirreligioso, um homem e um intelectual que não admitia metafísica alguma, aprisionado até o fim em sua confiança profunda no materialismo histórico, o marxismo", que "se colocou com lucidez ao lado das ervas daninhas no trigal do Evangelho" e "dizia que perdia o sono só de pensar nas Cruzadas ou na Inquisição, esquecendo-se dos gulags, das perseguições, dos genocídios e dos samizdat culturais e religiosos". Para tentar dizimar ainda mais o autor, acrescentam que José Saramago era "um populista extremista", que se referia "de forma muito cómoda" a "um Deus no qual jamais acreditou por se considerar todo-poderoso e omnisciente".
Vamos por partes. Interpreto isto apenas como um ataque porque foi a Igreja a dizer estas palavras. E, vindo da instituição que vem, mete-me um asco imenso que se atrevam, sequer, a pronunciar essas palavras contra um homem como José Saramago. Mas, tentando - dificilmente, admito - abstrair-me dos filhos da outra que fizeram os comentários, tenho a dizer que é uma descrição daquilo que José Saramago foi, é, e continuará sempre a ser: um ateu militante e militante do comunismo, do Partido Comunista Português e dos povos de todo o mundo, contra toda e qualquer injustiça social, cultural ou ambiental, um homem do povo que condenou sempre quem ou o que mais o merecia, sem papas na língua, porque não vale a pena tê-las se isso significar a distorção da verdade, um homem intelectual, racional e a favor da igualdade entre todos. Isto que é o que, no fundo, o jornal do Vaticano quer dizer, é o que lhes mete tanto medo: pessoas que pensem por si, que não se deixem ir pelas convenções instituidas por homens de batina. E Saramago era, acima de um escritor, um pensador que pensava muito e, cripticamente, ia dizendo as verdades nos seus livros, todos eles. O que aborrece a Igreja não é o facto de ele ter ganho um prémio Nobel, sendo ateu e comunista; o que os aborrece mesmo é que eles sabem que ele tem razão em tudo o que disse, mas quando um mal dura demasiado custa a arrancar pela raíz. E a Igreja é um mal que dura já há demasiado tempo, como Saramago, em vida e corajosamente (ao contrário, repito, das palavras cobardes que o Vaticano proferiu), não se cansava de repetir.
Algumas citações retiradas daqui.
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