2011/09/11

Do 11 de Setembro estadunidense

(Sim, escrevo estadunidense para me referir aos habitantes dos Estados Unidos da América. Não, não sou brasileiro.)

Assinala-se hoje uma década decorrida dos ataques cruéis ao World Trade Center e ao Pentágono. Esses ataques foram uma surpresa para o mundo, uma demonstração de falhas naquele que se gabava de ser o melhor país do mundo. Apesar de vis, cruéis e bárbaros, os ataques de 11 de Setembro de 2001 foram importantes, não somente para os Estados Unidos da América mas, sobretudo, para todo o mundo. Não falo certamente da importância da evolução súbita que houve nos sistemas de segurança aéreos - quem souber fazer as coisas decentemente consegue infiltrar uma bomba num outro sítio onde causará ainda mais vítimas e onde passará uma mensagem ainda maior. Nem falo tampouco da chamada "guerra ao terrorismo", cuja única coisa que trouxe foi um sentimento de insegurança terrível para o povo americano e não só.

Falo, isso sim, do mundo inteiro, a uma maior ou menor escala, ter começado a perceber as coisas horríveis que os Estados Unidos da América são capazes de fazer. Entraram, depois do 11 de Setembro, numa guerra infinita, numa alegada "guerra contra o terrorismo", com um inimigo em mente - Osama Bin Laden. A morte injustificada de milhares e milhares de civis inocentes, o sangue derramado de crianças, mulheres e homens, não são danos colaterais - é crime de guerra! A invasão de países soberanos sem a sua permissão viola todos os acordos de guerra estabelecidos depois da II Guerra Mundial! Os Estados Unidos da América, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, todos os países seus membros e todos os que invadiram o Afeganistão, o Iraque e o Paquistão, causando a morte de 48.644 afegãos e de 1.690.903 iraquianos inocentes deveriam responder em Haia e ser punidos pelos seus crimes!

Não se tratava já de uma invasão preventiva e qualquer um que ache isso ou é idiota ou tem os olhos e os ouvidos tapados do mundo. Não se tratava de uma medida de combate ao terrorismo. Tratava-se da sede de demonstração de poder tipicamente estadunidense, da sua sede de imperialismo e da vontade de conquistar povos, repito, soberanos.

Não é assim que se combate o terrorismo. O terrorismo é combatido percebendo as suas origens. Não tem origem no fundamentalismo religioso - embora isso ajude. Não tem origem num psicopata qualquer - embora isso ajude. Tem origem, isso sim, em algo mais distante, como a invasão dos Estados Unidos da América ao povo e país afegãos no final da década de 80 e deixar aquilo na miséria. Tem origem nas desigualdades, não só sociais, mas também políticas e de género, existentes nesses países e encorajados pelos seus invasores da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Tem origem no sofrimento dos povos às mãos de déspotas apoiados e controlados - muitas vezes - pelos Estados Unidos da América (olá Pinochet - também de um outro 11 de Setembro, tão criminoso como este).

Se os Estados Unidos da América são alguma coisa ao terrorismo não é combatentes - é apoiantes e grandes impulsionadores à escala mundial.

Mas não o povo estadunidense. Esses, obviamente, não têm culpa do sistema. O mesmo sistema que os molda desde crianças para pensarem que tudo está bem, que os canalhas dos muçulmanos, dos comunistas, dos gays e dos pretos é que estão mal. Eles não têm culpa.

E, por isso, no dia de hoje, 11 de Setembro de 2011, dia em que se assinala o décimo aniversário dos ataques terroristas às Torres Gémeas e ao Pentágono, estou com os meus pensamentos virados para as 2.976 pessoas que perderam a vida nas torres. Estou com os milhares que conheciam alguém ou que tinham pessoas queridas e amadas nas torres na altura do ataque e que, infelizmente, perderam a vida. Mas estou também com os meus pensamentos virados para os soldados que morreram numa guerra que não é a sua - americanos e locais. Estou com os meus pensamentos virados para 1.739.547 de inocentes, homens, mulheres e crianças com toda uma vida pela frente, mortos às mãos de de uma guerra que nunca pediram nem desejaram. Para todos eles, sem excepção, ao contrário do que é feito por muitos: Ave atque vale

Aeternum vale.

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