O Dr. Manuel Alegre é difícil de explicar. Não é só difícil de explicar pela sua aparente bipolaridade política ao ser apoiado por dois partidos tão inimigos como são o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda - dos maiores críticos do governo, quase a cair para o "dizer mal só porque sim" -, e, já agora, facto pouco conhecido, pelo Partido Democrático do Atlântico, mas também porque se apresenta na corrida a Belém para tirar o poiso ao Prof. Cavaco Silva. Não se candidata, objectivamente, para muito mais.
O Dr. Manuel Alegre baseia a sua campanha eleitoral a dizer que defende o Estado Social, e que a sua eleição para Presidente da República é o garante da continuidade desse projecto de Abril. Mas também vejo Francisco Lopes a defender isso, por isso não é o único. O Dr. Manuel Alegre diz que será um Presidente justo e solidário. Bonito de se dizer e ainda mais de se ouvir ou ler. Mas o que é que isso significa? A justiça compete aos tribunais e à Assembleia da República, quando faz as leis. A solidariedade significa que o Dr. Manuel Alegre abrirá, qual Hugo Chavez na Venezuela, as portas do Palácio de Belém para que sem-abrigo possam lá dormir? Não me parece. Nas suas poucas propostas encontramos uma tentativa de diálogo com a União Europeia que hoje existe. A mesma UE que, através dos donos França/Alemanha, subjuga os outros países à sua vontade. Dialogar com a UE é o mesmo que tentar dialogar com um leão faminto. O que se tem de fazer é apontar o dedo, acusar quem deve ser acusado e dizer a verdade do que está a acontecer - os países periféricos serem lacaios do bloco franco-germânico. Romper com estas políticas que nos fazem perder dinheiro e arranjar políticas que resultem, com ou sem o aval da UE, e pressionar para que aconteçam. Não é isto que eu vejo o Dr. Manuel Alegre a querer fazer. O mesmo Dr. Manuel Alegre do PS que tem o apoio directo do Governo e dos altos dirigentes ditos "socialistas" que são quem nos tem andado a empurrar cada vez mais fundo para dentro do poço. Não, eu não quero um Dr. Manuel Alegre como Presidente porque é um candidato que é comprometido com todas as políticas que o PS tem feito. Porque pode ser apoiado pelo BE, mas milita no PS, no centro, ora esquerda ora direita, não no BE que, apesar de tudo, é de esquerda. Eu não quero um Presidente da República que milita no partido que é o maior responsável do gravoso Orçamento de Estado de 2011 e que disse ser necessário.
No entanto, é imperioso admitir que é o candidato que mais possibilidades tem, à data, de ir a uma hipotética segunda volta com o Prof. Cavaco Silva. E, caso isso aconteça, há a possibilidade de escolher entre o menor de dois males e, assim como assim, de vez em quando o PS ainda é de esquerda. Numa hipotética segunda volta, o meu apoio está em Manuel Alegre, mas não contente. Mas nesta primeira, é com contento que não lhe dou o meu apoio.
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