2010/11/04

De prémios e fundações

Estarei, na óptica de alguns, errado. Acusar-me-ão, sem dúvida, de radicalismos e de extremismos ortodoxos e bacocos. Mas não quero saber, escrevo estas linhas à mesma, apesar de ter estado, nas passadas semanas, em dúvida se as escreveria ou não.

O Prémio Nobel da Paz foi atribuído a um alegado preso político chinês. O Prémio Sakharov foi atribuído a um dissidente cubano. O Prémio Nobel da Literatura foi atribuído a um homem que foi, em tempos, comunista, mas que agora é um capitalista neo-liberal extremado. A Amnistia Internacional, organização humanitária internacional sediada em Londres, resolveu organizar uma manifestação contra o Presidente chinês aquando a sua visita a Portugal.

Para bom entendedor meia-palavra basta, mas eu passo a explicar o meu ponto de vista.

O que têm todos estes prémios e organizações em comum? Certo, se não sabem eu digo: é tudo sediado em sítios que são lacaios dos Estados Unidos da América. O Prémio Nobel, da Paz e da Literatura, é entregue por uma Fundação que tornou o seu objectivo premiar pessoal que vai contra o socialismo e o comunismo. Raramente, e para não parecer mal, lá premeiam alguém que é neutro nessas questões ou, milagre!, algum comunista ou socialista. Muito mais, sublinhe-se, no da Paz que no da Literatura. Indubitavelmente mais. E, no da Paz, o único comunista, creio, que foi premiado, recusou o prémio, com toda a justiça, o vietnamita Le Duc Tho. De resto, temos um espólio de personalidades, no qual não se encontra Mohandas Ghandi, que lutou pela paz com a paz, mas onde encontramos americanos que em nada contribuiram para a Paz mundial - o mais recente exemplo sendo Barack Obama. Temos, então, o Prémio Nobel da Paz que resolveu premiar as pessoas de quem os EUA gostam, indo contra quem os EUA não gostam. É o normal - o lacaio a beijar os pés do patrão. O mesmo acerca do Prémio Sakharov, do qual nunca se ouve falar, a não ser quando é entregue a Damas de Branco ou a Guillermo Fariñas. Novamente, o beija-pés da União Europeia é algo descomunal...

Menos grave é a situação da Amnistia Internacional. Menos grave porquê? Porque é uma organização humanitária, internacional, defensora dos direitos humanos, mas que, volta e meia, resolve fechar os olhos a algumas coisas, fazendo de conta que é um Nobel e tentando agradar os EUA. Sim, são escritas coisas contra a prisão de Guantánamo pela pena da AI, mas não vejo muitas manifestações contra isso. Vejo manifestações e apoios em massa contra Cuba ou China. Não vejo a Amnistia Internacional Portugal a juntar-se à plataforma «PAZ Sim! NATO Não!». Mas vejo a organização de uma manifestação contra o Presidente chinês que poderá vir a comprar a dívida portuguesa. Talvez a culpa nem seja da organização - afinal, condenam algumas coisas que eu também condeno e temos pontos de vista coincidentes em alguns aspectos. Talvez a culpa seja de coisas como o Prémio Nobel da Paz ou o Prémio Sakharov ou a comunicação social que exalta os Estados Unidos e toda a sua estupidez (para exemplificar: quando morrem soldados da NATO, nem que seja só um, é um escândalo, marotos dos taliban. Mas quando morrem civis, aos milhares, às mãos desses soldados, é porque foi preciso porque um dos malandros dos taliban estava lá pelo meio) e que tentam, todos os dias, manipular o pensamento da população. A mão invisível que move (e passará dinheiro?) esses prémios, é a mão dos EUA, que gosta de dar chapadas a quem não a apertar. Felizmente ainda há quem não a cumprimente e aceite as chapadas com toda a sua honra.

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