2010/10/28

Da alta desonestidade intelectual

Acho que o artigo do sociólogo Alberto Gonçalves na revista Sábado desta semana é uma barrigada de riso tremenda. Fica aqui a digitalização do artigo (clicar para ampliar) que, estranhamente (ou não), não aparece em lado algum online.

Ora bem. O senhor Alberto Gonçalves, para começar, tem um nome normalzeco. Apeteceu-me começar por aqui, como a ele lhe apeteceu começar por uma ponta e acabar noutra completamente diferente, numa autêntica revelação de falta de organização de pensamento. Assim, a determinada altura, diz o senhor Alberto Gonçalves, reputadíssimo sociólogo de quem eu nunca tinha ouvido falar antes de ler esta sua delícia literária: "Na pele de Rita Rato, eu teria preocupações maiores, entre as quais as de perceber que a ausência de 'liberdade de opção' define a exploração e, acima de tudo, a de me livrar de um nome de baptismo esquisito." - isto, senhor Alberto Gonçalves, é descer ao mais baixo nível argumentativo. Ao nível zero, que nem um argumento é. Mas, a ser alguma coisa neste delírio das letras, esta parte é a mais 'porreirinha'. Voltemos agora ao princípio, num autêntico 'loop' para deixar o leitor tão tonto como os que já são de origem quem lê Alberto Gonçalves e concorda com ele. Começa essa mentalidade genial por descobrir, por dizer que não conseguiu confirmar a história de que cinco membros da JCP que estavam a pintar um mural foram obrigados a despir-se numa esquadra da PSP. De seguida põe em causa a legitimidade que o PCP e qualquer outra organização política tem de pintar um mural através de uma passagem de partir o côco a rir: "(...) Presumo que a 'pintura' em causa fossem uns rabiscos propagandísticos e que o 'mural' fosse propriedade pública ou privada. De qualquer maneira não é a destruição de bens alheios que indigna os blogues ['subordinados ao PCP'] (...)". Ora bem, percebe-se que em toda a sua mente fechada e repleta de anti-corpos anti-comunistas este sociólogo questione a legitimidade de pintar murais. O grande problema desta criatura - e de todos os que acham ser capazes dessa árdua tarefa que é transmitir a ideia de morte ou decadência de um partido, geralmente o PCP - é que é uma criatura de contradições, de mau feitio, de ignorância, feio e, ainda por cima, mal vestido. É que, aparentemente, em toda a sua ignorância, Alberto Gonçalves, sociólogo, acha-se omnisciente e arroga-se de ser superior a toda a gente. Arroga-se de ter conhecimentos plenos e científicos do que se passa na China, em Cuba e noutros países socialistas, através, presumo, de um estudo exaustivo, de um trabalho de campo tremendo, da leitura infindável das transcrições dos julgamentos. Porque se ele goza com a deputada do PCP, Rita Rato, por ter tido a modéstia de afirmar que não conhecia o suficiente sobre essas matérias para poder fazer um juízo de valor, de certo que, no seu vasto cérebro que, de tanto se alongar, fez o senhor um bocado cabeçudo, saberá e terá estudos sobre isso. Ou será que leu apenas nos jornais? Os mesmos jornais que, invariavelmente, são controlados por pessoas ligadas a grandes grupos económicos, sejam esses jornais nacionais ou internacionais? Ou será que leu apenas os relatórios, parcos em provas concretas, de associações de direitos humanos dos Estados Unidos e que nunca denunciaram a situação de miséria, tortura física e psicológica e violência sobre presos no Iraque, por exemplo? Acha o senhor Alberto Gonçalves piada às respostas de Rita Rato acerca das gulags, mas se calhar é dos hipócritas que já não acha tanta piada quando se diz que, no meio de tantas mortes às mãos dos nazi-fascistas, não morreram só judeus e que os mesmos se aproveitam - e muito, bastante e demasiado - dessas benesses com fundamentos num livro bolorento e arcaico. A favor da prostituição enquanto objectivação das mulheres, este ser considera que a ausência de uma liberdade de opção é a desculpa magna à exploração. E, portanto, para esta coisa que resolve escrever o que defeca, as mulheres a quem lhes foi tirado o direito de opção sobre o que fazer na vida, as mulheres devem sujeitar-se à exploração por parte de outrém só porque, talvez, vocelência possa ser desses que gostam de explorar 'sangue fresco'. Alberto Gonçalves parece ter como hobby a sociologia e o facto de escrever umas estupidezes de vez em quando para uma revista que, por acaso, até gosto muito. Mas de profissão, acho que os seus filhos nas fichas de identificação da escola deverão escrever "Anti-Comunista Primário e Reaccionário de Segunda". Mas parabenizo Alberto Gonçalves, sociólogo - pela primeira vez desde que leio a revista Sábado, consegui gostar menos e rir-me mais de um artigo que os do Pacheco Pereira. De resto, tenho apenas a dizer que este senhor conseguiu o que em mim é difícil, aquela coisa que eu guardo para as pessoas mais "especiais" - Alberto Gonçalves conseguiu de mim, não o meu ódio, mas o meu mais profundo e, paradoxalmente, directo desprezo.

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