Consigo apenas concluir que o meu único país é o Mundo. Hoje atravessei a fronteira de Portugal com Espanha pela enésima vez e não vi nenhuma linha no chão, como estava à espera. Não a vi, ela não estava lá e a minha surpresa foi nula. Em nenhum país há linhas a indicar o fim do mesmo, apenas linhas na representação do Mundo, que são os mapas. E, para mais, o país Portugal onde se diz que eu nasci irrita-me. Irrita-me pela sua inércia, pelo seu cinismo, por ser cinzento, por ser tão rude, por ser tão agarrado ao confortável, pela deficiência que tem em mudar, pela ignorância, pela injustiça, pela imbecilidade, pelo falso patriotismo, pelas pequenas obsessões com pequenos assuntos, pelo divertimento antigo deselegante e desinteligente... E posso até dizer porquê, tópico a tópico.
Irrita-me pela sua inércia, porque ninguém se mexe para coisa nenhuma, pelo seu cinismo porque todos dizem que está mal mas ninguém faz nada, por ser cinzento porque as pessoas andam tristes com o emprego e com a família e com os amigos e com o governo e com o estado, por ser rude porque as pessoas não se falam na rua nem respondem amavelmente a um sorriso, por ser tão agarrado ao confortável que já nem procuram informar-se do que poderá ser melhor porque isso não existe e o que vier de diferente será de certeza pior, pela deficiência que tem em mudar principalmente os seus costumes e ai jesus se nos mexem nas crenças ou nas tradições ou nas touradas ou no raio que nos parta a todos ou no pê-ésse ou no pê-ésse-dê que não fazem nada de jeito mas não me apetece fazer mais nada nem votar em mais nenhum, pela ignorância porque Portugal é um país que não se sabe informar do que é bom nem fundamentar porque é mau, pela injustiça onde se absolve gente em tribunais por loopholes legais ou por cunhas ou por politiquices ou por filhasdaputice, pela imbecilidade porque enfim não é preciso dizer mais nada, pelo falso patriotismo de pendurar bandeiras à janela em tempos de futebol ou em tempos de papa e agora até em tempos de vindas de jesus não o treinador o outro, pelas pequenas obsessões com pequenos assuntos porque este povo não quer ver a grande imagem e prefere ver se o outro é culpado no caso dos outlets ou se afinal os olhos do outro são mesmo bonitos ou se os gays podem casar ai credo que isso não pode ser que o senhor padre disse que isso está mal ou se o filho da outra afinal é do outro ou não enquanto o seu país é arrastado na lama e quase a morrer atropelado pelos outros todos grandes vistosos e numerosos ricos e idiotas, pelo divertimento antigo deselegante e desinteligente porque agora não são três éfes, são três éfes e um éne, para pôr os macacos a dançar são eles fátima futebol fado e novelas. E enfim, eu não sou mais português de Portugal, demito-me. Sou português do Mundo, sou de Espanha, de França, da Suíça, da Rússia, da Tailândia, da China, da Austrália, dos Estados Unidos da América, de Cuba, da Venezuela, do Brasil... Sou de todos os países, português de origem, mas com casa no Mundo.
Deste país, deste Portugal, apenas me recordo da beleza, de alguma obra feita, de pessoas ilustres e verdadeiramente importantes. De resto, recordo-me de más políticas, da desgraça da cultura (não da que se faz, da que se vê), do desastre da educação, da estupidez do povo e de tudo tudo tudo o que já disse. E se alguém, algum José Sócrates, algum Cavaco Silva, algum Passos Coelho, algum tê-vê-í, se alguém não gostar do que disse e me disser que sou persona non grata neste país, neste Portugal, com mais vontade fico de me ansiar e de investir seriamente contra este Portugal que me acolhe e aonde eu nunca pedi para nascer.
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