2010/05/12

Comunicando Socialmente

Gosto cada vez menos da comunicação social que nos é impingida. E digo impingida para não dizer impropérios vários. Mais particularmente falando, desgosto-me cada vez mais com a comunicação social televisiva.
Como alguns de vós sabeis, sou um opositor das telenovelas. Sobretudo e quase exclusivamente das telenovelas da Televisão Independente, vulgo TVI. Pela repetitividade das histórias, pelo facto de serem feitas às "três pancadas" (e, como tal, excelentes actores verem o seu talento completamente amachucado e deitado para o lixo), mas, principalmente, por serem absolutas moldadoras de mente. Quantos de vós não ouvistes já pessoas que citam, como se de uma verdade absoluta se tratasse, diálogos e pedaços de uma história novelística qualquer para mostrar porque é que não se está a fazer algo de bem ou mal? Quantos de vós não presenciastes já, também, as conversas de alto calibre intelectual, onde florescem teorias acerca do romance da Felisbunda com o Celso? A TVI, com as suas telenovelas produzidas em série, pré-fabricadas, de "copy-paste" da sua antecessora, sensaboronas, sem inovação, pobres, mal representadas, mal escritas, procura moldar as mentes da população portuguesa mais vulnerável, tudo em nome do enchimento dos bolsos dos accionistas e dos administradores com receitas publicitárias. A TVI está a emburrecer a população com as suas estupidezes passadas no pequeno ecrã. E, o pior, o povo gosta de ser emburrecido. O povo gosta de ser estupidificado. O povo gosta de ver que a Maria Amélia morreu para não ter de pensar nas suas próprias tragédias! E sim, escrevo "povo" e não "Povo", porque o povo que é Povo merece ser defendido, mas o povo que é povo, que se deixa estupidificar sabe-se lá com que pretexto, não merece que se mexa uma palha por ele. Esse povo, o "povo", é um suicida intelectual. A TVI, como a ela só lhe interessam as receitas, dá-se ao luxo de se borrifar com o que passa ou não passa.

Em contraponto, defendo as séries. E não só defendo as séries, como defendo o investimento em duas séries de 40 minutos por noite, por cada canal televisivo, a passar uma ou duas vezes por semana. Tenham a qualidade que tiverem. O que é importante é haver diversidade temática. Louvo quando surge um "Conta-me como foi", um "Contemporâneos" ou até mesmo um "Lua Vermelha"!  Três séries, semanais, completamente diferentes, líderes nas audiências daquele bloco temporal. Que não estupidificam. Que não moldam as mentes. Porque não têm tempo para isso, reparai: a passar a uma ou duas vezes por semana, a 30/40 minutos por cada vez que passam, com outras séries também a passar noutros dias, as pessoas ficam entretidas e não caem no aborrecimento e no emburrecimento.

O emburrecimento, claro está, relaciona-se também com a falta de informação. E qual o melhor exemplo de falta de informação que os telejornais que passam todos os dias na televisão? E encontrais vós melhor exemplo da (des)informação que hoje em dia corre por aí, que os telejornais repletos de uma espécie de dicotomia que parece impagável (Papa e Benfica)? Vede os directos de quando o Papa foi à casa-de-banho ou algo parecido e percebereis do que estou a falar. Mas não é só essa a desinformação. O bom jornalista, dantes, era aquele que se mantinha imparcial, o que pesquisava, o que tentava encontrar uma boa história custasse o que custasse. O bom jornalista, hoje, é aquele que faz as perguntas de maneira provocatória, é aquele que numa história só ouve uma das partes, é aquele que vê as notícias da moda e prescinde de tudo o resto. O bom jornalista, hoje, é um jornalista que apenas é comparável a um enorme jarro de diarreia. Aos jornalistas, agora, parece que não basta noticiar, mas ser, eles próprios, notícia.
A RTP, sempre no papel que lhe convém, de cãozinho do Governo, faz aquele telejornal que chega a ter piada de tão lisongeiro que é para Sócrates e a sua trupe. Depois temos aquele programa apresentado pelo pior modelo de imparcialidade que podíamos encontrar - falo, é claro, do "Prós e Contras", por Fátima Campos Ferreira. De todo o jornalista parcial que há por aí, foram escolher a menos discreta, a que desfavorece sempre uma das partes, outra senhora que, pode dizer-se, é uma lacaia da visão governamental, do conservadorismo e da religião. Tudo o que vá contra a sua visão é um ai-jesus-vou-já-desfavorecer-te. É uma péssima apresentadora de uma ideia excelente, tornada num péssimo programa. Ou, pelo menos, para não ser cem por cento malicioso, tem dias onde é bom, mas é, sobretudo, em matérias que interessam apenas a cerca de dez por cento dos portugueses. Em temas como a educação, a religião, à dicotomia esquerda/direita, a políticas orçamentais ou a reformas progressistas, a senhora tem sempre uma palavra a dizer - que, infelizmente para ela, é muito bom em crónicas, mas fica nojento em alguém que é moderador de um debate. Depois temos a "Grande Entrevista", que é apresentado por uma senhora que, na maioria das vezes, sabe o que faz. Quando não sabe, é que a coisa dá para o torto. Mas costuma saber e, este programa aqui, é para louvar.
A TVI é precisamente o contrário da RTP - é o cãozinho da direita. Ataca sempre. Desde os grandes assuntos, como o PEC ou o Orçamento de Estado, até aos mais pequenos assuntos, como as unhas dos pés de José Sócrates, tem sempre uma palavra a dizer. Vá, numa coisa concordo com o nosso Premiê, o jornalismo da TVI é uma coisa aberrante e travestida que não pode ser, nunca, chamado de jornalismo. Chamem-lhe o que quiserem, mas não é jornalismo. Porque jornalismo não é fofoca. Eu vejo um telejornal para me informar das coisas de maior importancia que se passam no mundo e, no final, de ver qualquer coisa feliz para me pôr um sorriso na cara. Não vejo um telejornal para ver uma reportagem de quinze minutos sobre a telha da dona Judite que caiu em cima do técnico da televisão por cabo! E é anúncio, atrás de anúncio, atrás de anúncio! Chiça! Vinte minutos ou mais de anúncios entre programas sem qualidade nenhuma é só mesmo querer fazer dinheiro à custa de publicidade!
O único telejornal que se safa é o da SIC e, mesmo assim, tem dias. Há dias em que lhe dá uma de TVI e perde a imparcialidade para passar ao ataque. Mas é relativamente pouco. Louva-se na SIC, também, alguma falta de medo em apostar em conteúdos novos. Agora eu não aceito uma coisa que parece já se ter tornado moda lá para aqueles lados: a troca horária, o cancelamento, o ensopado de repetitivas telenovelas brasileiras... Senhores já chega... Mas no espaço informativo, creio, são os melhores dos três maiores canais, não sendo, no entanto bons. Principalmente no espaço político. O pouco destaque que dão a alguns partidos e o destaque ridículo que dão a outros é desconcertante. Não para o PS ou para o PSD... Mas para os outros, sobretudo a CDU (sim, já antes das eleições, quando era a terceira força política, acontecia, portanto não vos desculpais com tamanha falta de argumento!), há uma discriminação abismal! E o mesmo vale para todas as outras estações, apenas me referi na parte dedicada à SIC por ter pouco a dizer acerca dela e querer ocupar mais ou menos o mesmo espaço que ocupei com os outros.
Da RTP2, nada tenho a apontar. É um canal agradável, pluralista, sem anúncios de índole comercial, muito cultural e com a melhor programação que pode ser oferecida em sinal aberto. Apenas critico o que já critiquei quanto ao seu telejornal-gémeo da RTP. De resto, é uma estação que está de parabéns.

Dicas:

  • Produzi (mais) séries de ficção nacional - temos excelentes escritores e realizadores, usai-os;
  • Pensai mais nas pessoas e não em vossos bolsos (eu sei que é difícil, mas tentai, que chegareis lá);
  • Tentai ser imparcial - este ponto é imperativo;
  • Tentai ser imparcial - nunca é demais reforçar;
  • Não sigais modas, fica-vos mal e o público não merece essa desconsideração.
Fazei isto, consegui vossas audiências, não estupidifiqueis vosso público e agradecei-me depois. Não aceito cheques nem multibanco.

2 comentários:

Unknown disse...

Concordo plenamente, o povo deixa-se ficar ali a absorver radiação desnecessária, quando podia estar a usar a internet que é um meio onde o utilizador interage e se desenvolve.

"Lua Vermelha" o.o?? really?? isso não é uma mistura de power rangers e Lua Nova?

Tiago Emídio Martins disse...

Epá, a "Lua Vermelha" insere-se numa categoria que não tem qualidade nenhuma, mas, pelo menos, na TV portuguesa não há nada parecido... :P