2010/04/22

Sobre a proibição do uso do véu islâmico

Desde já aviso que este post não vai agradar nem a pessoas de outras religiões que não a muçulmana, nem a ateus, como eu. Eu próprio tenho uma certa dissonância cognitiva face a este assunto. Mas tenho que tomar um partido, e tomo o partido que vai mais de acordo com o que acho justo.

A controvérsia é antiga, mas tomou nova luz depois do relato do caso de Najwa Malha, uma jovem espanhola que se viu expulsa da escola onde andava por usar um véu islâmico, um hijab. Defendo, acima de tudo, a liberdade. E o meu conceito de liberdade é muito simples: não proibir o outro de fazer algo só porque vai contra o meu sistema de crenças. Não estou a falar da liberdade de matar um ser humano, evidentemente. Falo da liberdade que, sem fazer qualquer mal ao outro, nos é negada. E é essa liberdade que foi negada à jovem Najwa. A liberdade de, sem causar qualquer mal ou dano a ninguém, usar um véu que simboliza a religião a que pertence. Como o crucifixo no cristianismo, o shanglon no hinduísmo, ou a estrela de Davi no judaísmo. E, repito, só porque vai contra o sistema de crenças de uma sociedade ocidental cada vez mais decadente. É, acima de tudo, a retirada da liberdade, mas também o roubo à identidade religiosa daquela jovem. Assim, proíbam-se também os crucifixos, apaguem-se os shanglons e arranquem-se as estrelas de Davi. Proíba-se a bandeira de Israel, as visitas do Papa e do Dalai Lama. Eliminem-se as igrejas, as sinagogas, as mesquitas e os templos.

Mas, como disse antes, a história é controversa e antiga. França e Bélgica estão prestes a ver aprovada uma lei que diz que é proíbido o uso de vestuário que cubra o rosto deixando apenas os olhos à vista, ou nem isso. Isto é ridículo, por um número variado de razões. Começo pela falta de honestidade da classe política dominante nesses países, que não os têm no sítio para dizerem sucintamente que o que querem é proibir o islamismo e os seus símbolos. Continuo dizendo que é ridículo porque só cerca de quatro mil mulheres em ambos os países é que usam a burqa ou véu similar, número esse que contraria as estatísticas no que toca a assaltos, por exemplo. Avanço a dizer que um extremista é um extremista - também os há no catolicismo, no judaísmo, e mesmo no ateísmo, mas não é por isso que representam a maioria dessas crenças - e acho que perceberam o que quero dizer aqui. Termino dizendo que, assim sendo, proíbam também o carnaval, por exemplo, ou os disfarces de pai natal na altura própria, ou porque não os palhaços e os mágicos de circo, ou de rua?

Voltando ao caso de Najwa Malha, é algo ainda mais grave, porque não se trata de nenhum traje que torne impossível a identificação. Trata-se de um hijab, um simples véu sobre a cabeça, que deixa o rosto 100% à mostra. É, por parte do director da escola onde anda(va) Najwa, um caso de extrema islamofobia, intolerância religiosa e um autêntico atentado aos direitos humanos! É revoltante que algo assim aconteça em pleno século XXI! E é ainda mais revoltante que ainda não tenham sido tomadas medidas em relação a isso. E é ainda mais revoltante que haja gente, inclusivamente da classe política dita "de esquerda e a favor da liberdade", em Espanha, que esteja do lado do director! Dos beatos da direita conservadora estava à espera de algo assim (halo, PP!), mas nunca me passou pela cabeça que houvesse uma divisão dentro do próprio PSOE por causa disto...

Najwa Malha, se alguma vês leres isto, tens um amigo português! Um fortíssimo abraço e muita força e solidariedade!

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